E os homens: precisam ser fortes ou podem chorar?
Falaremos aqui de homem para homem. Mas as damas que queiram, fiquem à vontade para ler e, despretensiosamente, enviar este texto para aquele machão que segura suas emoções.
Já ouviste a expressão “homem não chora”, né? Tenho certeza que sim. Talvez tenha sido zoeira dos amigos, mas também pode ter sido uma dura cobrança dos familiares. O fato é que estas três palavras, assim como tantas outras, nos marcaram profundamente. Falo que nos marcaram, pois esse conceito do ser macho está intrínseco na nossa cultura. Tornou-se comum. Vem desde os primórdios da sociedade essa ideia de que o homem precisa ser sempre forte, até meio insensível, o solucionador de problemas que não demonstra fraqueza; fala de tudo que é externo, mas raramente permite falar de si. Mas já te digo assim, “na lata”: todo o homem é macho, mas nem todo macho é homem. Pois que homem consegue ser sempre assim? Até Jesus, que para nós é modelo perfeito de homem, chorou.
Amigo, talvez tu não sejas muito de falar e, quando falas, seja sobre futebol, política, trabalho, um bocado de outras coisas, tudo!, mas não dos teus sentimentos. Falar o que sente e demonstrar emoções não te faz menos homem, ao contrário: afirmam que existe uma forma masculina de viver nossa realidade humana, pois super-homens só existem na ficção. Lágrimas não tem sexo. Acreditar que nós homens não podemos chorar é negar nossa afetividade. Somos seres de afeto! Temos afeição por nós mesmos e pelo próximo. Podemos chorar de alegria e de tanto rir; deixamos escapar algumas lágrimas quando encantados com a beleza de uma música ou diante da lembrança que dá saudades; também choramos de raiva, de tristeza, de dor.
Diversos motivos nos fazem chorar, o que não quer dizer que choraremos o tempo inteiro. Mas em momentos que o coração aperta, que a angústia toma conta, e já não sou de falar o que sinto, mas dá aquele nó na garganta e estou para explodir, por que segurar tudo isso dentro do peito se as lágrimas lavam a alma?
Homens têm sentimentos e não há mal algum em expressá-los. Também sentimos nossas perdas. Também nos dói quando uma pessoa que amamos morre. Não choraremos para sempre, mas naquele momento diante da notícia trágica, ou durante o velório, até mesmo dias/meses depois quando a saudade bate, por que teimamos em querer parecer fortes e trancamos dentro de nós sentimentos que, quando externalizados e elaborados, nos trazem alívio e até consolo? Repito, não há mal algum em demonstrar que estás triste; conversar com alguém, falar como se sente, contar o quanto a pessoa faz falta e como dói sua ausência podem nos trazer paz, pois, ao mesmo tempo que honramos a memória de quem nos deixou, vamos pondo “pra fora” as tristezas que nos pesam e vamos reorganizando os sentimentos e as boas lembranças.
Talvez tu tenhas lido até aqui e ainda estejas relutante em falar e trazer à tona sentimentos difíceis, mas o que escrevi traz um pouco de mim: experiência de um cara que cresceu bastante sentimental, mas sempre quis cuidar dos outros, ignorando o que sentia, pois não podia perder a pose de “protetor” de todos, eu tinha que ser sempre forte. Até me esgotar. E daí não conseguir mais dar conta dos outros e nem de mim mesmo, e ter que reaprender, agora de uma forma mais assertiva, a ser “homem de verdade”. Perdas fazem parte da vida. E partilho contigo que, quando minha filha faleceu, chorei. Chorei muito. Chorei a dor da minha esposa e a minha própria dor com a ausência da nossa pequena Catarina. Eu falava com as pessoas sobre como estava me sentindo e como ainda doía. Por isso te digo: chorar alivia e falar cura.
Guilherme Teixeira