Dito assim, no seco, assusta, não é mesmo? Até parece uma ameaça. Talvez teu primeiro pensamento tenha sido que estou te rogando uma praga. Mas não. Pensar sobre a morte é importante, principalmente sobre a nossa própria. Algumas ordens monásticas cumprimentavam-se com a expressão latina memento mori, traduzida como “lembra-te que vais morrer”. A experiência que temos com a morte ao longo da vida é sempre com a do outro, não com a nossa. Mas podemos nos preparar. Pois, se tu ainda não tinhas pensado nisso, eis um fato incontestável: tu vais morrer. Calma! Não digo que seja agora, mas em algum momento o fim chegará e é bom que estejamos prontos. Não tenhas medo de pensar sobre isso. Essa reflexão fará bem para ti, para mim e para aqueles que amamos e ficarão aqui.
Quando a pessoa já sabe que vai morrer – e aqui serei bem genérico mesmo, pois cada vida é única e as pessoas reagem de formas diversas – seja por doença, velhice ou qualquer outra forma como a morte se apresente, ela geralmente segue um desses caminhos: quer bem aproveitar o tempo que lhe resta, ou se desespera e cai em uma profunda tristeza (sim, eu avisei que seria bastante genérico). A morte é dar-se conta da nossa finitude. Alguns indivíduos perdem a esperança e sofrem além do necessário, tornando seus últimos dias pesados e tormentosos para si mesmos e para aqueles que querem poder ajudá-los. Outros ressignificam suas vidas até o momento atual e buscam um novo sentido, querem se reconectar consigo e com os próximos a si; é momento propício para o perdão, para aliviar a consciência e preparar a alma para o encontro definitivo; é para aqueles que sabem que a morte não é inimiga e a acolhem como boa irmã, como a chamava São Francisco de Assis.
Mas e quando a morte é inesperada? Quando não há tempo para receber a unção dos enfermos, ou para um último desejo? Antes de tentar responder estas questões, é válido lembrar que estou falando contigo crendo que a morte não é de fato o fim, mas o início. Caminhamos nesta terra preparando-nos para a morada eterna. E, por isso, é bom lembrar as palavras de Jesus: “estejais vigilantes, pois não sabeis o dia e nem a hora”. Se nos esquecermos de que um dia a morte virá, sempre deixaremos as coisas para amanhã. E justamente por não termos esse conhecimento do dia e da hora, estamos aqui buscando a via para bem aceitarmos a morte, confiantes de que quando ela vier será conforme a vontade de Deus e estaremos preparados para encontrá-la. Levar uma vida reta, virtuosa e sincera, procurar estar com a confissão em dia, reconciliar-se perdoando e pedindo perdão, ser ordenado com as responsabilidades financeiras, deixar acordado com alguém como proceder post mortem (velório, enterro, testamento); tudo isso trará maior paz na hora da morte.
Talvez agora estejas pensando: “se eu me preparar bem, enfrentarei a morte sem medo”. O medo é humano. Às vezes, é justo o medo da morte que nos move para a mudança. Outras vezes, não tememos a morte, mas tememos o sofrimento que a precede. É bem verdade que talvez o sofrimento também esteja presente na hora da morte, mas te convido a encará-lo também como uma preparação: a purificação que dá sentido para, oxalá, chegarmos à vida nova junto aos santos. Coragem e esperança! Que o medo não te paralise, mas sim, te impulsione para que confies na misericórdia do Senhor, ansiando pela Vida Eterna. Repito: coragem e esperança! Pois, parafraseando Ana Cláudia Quintana Arantes, a morte é um dia que vale a pena viver!
Guilherme Teixeira
Comunidade Nos Passos do Mestre