Você já deve ter ouvido alguém falar coisas do tipo “eu queria morrer dormindo, sem dor”, ou ainda, “eu queria morrer de acidente, algo que me matasse na hora, sem sentir nada”. No fundo, ninguém quer sentir dor, não quer esse sofrimento que por si só a morte já desperta. Mas, e se você tiver que sofrer antes da morte?
Vamos por partes. Afinal, o que é o sofrimento? Fazendo uma busca sobre o significado dessa palavra, encontramos essa definição: “ação ou efeito de sofrer, de sentir dor física ou moral”. O sofrimento, nessa perspectiva, pode estar associado a dor que se sente por uma doença que está levando a morte, ou ainda, a dor mais profunda de não querer interromper essa vida terrestre, os planos que não foram concretizados, de não ver sentido para o fim dessa vida.
São João Paulo II, na carta apostólica Salvifici Dolores, apresenta o sentido cristão do sofrimento humano, o seu valor salvífico. Ele se usa das palavras de São Paulo na sua carta aos Colossensses: “completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja” Col 1, 24, e nos leva a compreender que o sofrimento além de seu aspecto humano, também compreende uma dimensão sobrenatural. Se por um lado o sofrimento de estar morrendo, me leva a aceitar minha humanidade finita, minhas limitações, e até abrir meus olhos para o que realmente importa, por outro lado, me une mais intimamente com o mistério de salvação que pendeu da cruz.
E a morte, o que é? Segundo o documento Gaudium et Spes, fruto do Concílio Vaticano II “É diante da morte que o enigma da condição humana atinge o seu ponto mais alto” (GS 18). O Criador não nos fez para a morte, mas pelo pecado original ela se tornou uma realidade. Ao contar nossa vida pelo tempo cronológico, em que nascemos, crescemos, envelhecemos, parece até bem natural que o nosso fim seja a morte, mas ela é o fim da nossa vida terrestre, e foi totalmente transformada pela morte de Jesus, que nos abriu a possibilidade da vida eterna.
Assim nos diz São Paulo em sua carta aos Romanos: “Se morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com ele” Rm 6,8. Também nós podemos crer que ao unirmos o nosso sofrimento ao dEle no fim da nossa vida terrestre, daremos o verdadeiro sentido para o sofrer na morte, a salvação, e colocando nossa esperança no que virá.
Gabriela Guzzo
Comunidade Nos Passos do Mestre